A polêmica do consumo da carne do melhor amigo do sertanejo
chegou à esfera nacional. Mas apesar da enxurrada de posições contrárias a essa
alternativa para os jumentos abandonados no interior do Rio Grande do Norte –
inclusive manifesta em abaixo-assinado subscrito por mais de 71 mil pessoas – o
promotor da comarca de Apodi, Sílvio Brito, mantém seus projetos para dar algum
destino a esses animais. Uma das iniciativas visa oferecer leite de jumenta a
pessoas com deficiência nutricional.
Em função da polêmica sugestão de oferecer a carne de
jumento nas refeições em escolas públicas e presídios, a Câmara dos Deputados
realizou uma audiência pública com vários defensores desses animais ontem (1),
em Brasília. Algumas alternativas foram apresentadas pelos grupos.
Mas para o promotor, que não participou da audiência. “Eles
apresentaram outras soluções, mas ao meu ver todas são inviáveis”, opinou o
promotor. Uma das soluções apresentadas pelos grupos contrários ao consumo dos
asnos apontou a possibilidade de os animais serem usados para a terapia com
pessoas. “O problema é que a ambientalista que sugeriu isso disse que não tinha
clínicas com equoterapia aqui no Rio Grande do Norte. Mas vamos imaginar que
houvesse essas clínicas, quantas delas seriam necessárias para absorver todos
esses animais? Estamos falando de milhares de jumentos, não são somente
centenas”, contra-argumentou Brito.
Segundo o promotor, o IBGE tem um estatística que mostra que
o Brasil possui 900 mil jumentos e 90% deles estão no Nordeste. Ainda conforme
o membro do Ministério Público Estadual, não há uma estimativa exata para a
população desses animais. Outra possibilidade levantada pelos ambientalistas é o
retorno do uso desses animais para a tração de carroças e arado. “Para mim é
uma ideia meio infantilizada, não tem como convencer um homem do campo a querer
voltar para trás. Isso seria marchar na contra mão da história”, analisou
Sílvio Brito.
Em grande medida, a ascensão social ocorrida, inclusive na
zona Rural do Brasil, acabou por deixar os jumentos em último plano. Muitas das
funções desses animais, agora são feitas por motocicletas. Para o promotor, com
as facilidades oferecidas por máquinas de arado, os produtores dificilmente
retomariam o uso daquele que já foi o seu melhor amigo.
O segundo promotor da comarca de Apodi também não vê
viabilidade na proposta do bolsa-jumento para quem adotar um bicho. “Quem iria
arcar com isso? Seriam milhões de reais. Acho que as soluções apresentadas têm
que ser economicamente viáveis”, avaliou.
Além disso, legalmente os defensores dos jumentos afirmam
que nenhum abatedouro sem o certificado do Serviço de Inspeção Federal (SIF)
poderia matar os jumentos. Mas a interpretação jurídica do promotor das normas
sanitárias para essa atividade é que não seria necessário. “Eles falam isso
porque o único abatedouro com SIF mais próximo do Rio Grande do Norte fica em
Minas Gerais. Mas um abatedouro com SIF é mais direcionado para carnes de
exportação”.
A ideia de se oferecer a carne de jumento começou depois que
a comarca da Apodi começou a recolher os animais das rodovias. Segundo o
promotor, em três anos cerca de 100 acidentes envolveram um animal. Hoje, a
comarca do município possui aproximadamente 900 jumentos em propriedades
privadas, de pessoas que cederam o espaço para isso. O gasto para a manutenção
desses animais tem sido de R$ 10 mil. “Essas pessoas [que criticam] nunca
vieram aqui trazer um saco de milho para esses animais. Elas deviam ter gasto o
dinheiro das passagens para Brasília em algum benefício desses animais”,
criticou o promotor.
Leite de jumenta
Enquanto a discussão ganha corpo nas redes sociais e Brasil
afora, a Prefeitura de Felipe Guerra, 328 quilômetros de distância de Natal,
fechou uma parceria para utilização das jumentas. Cerca de 12 delas vão
oferecer o seu leite para pessoas com problemas com deficiência nutricional. Os animais utilizados foram selecionados entre os 900
apreendidos. Segundo o promotor, esse leite será prescrito pelo médico da
família e o fornecimento operacionalizado pela secretaria de saúde do
município. “São idosos, pessoas com doenças crônica e crianças subnutridas”,
falou sobre os pacientes que poderão receber esse tipo de leite.
“O leite de jumenta tem 60 vezes mais vitamina C que o leite
de vaca, tem mais proteína e 1/3 da gordura do leite da vaca”, disse o promotor
sobre as propriedades do leite de jumenta. A estimativa dele é que sejam
produzidos entre 10 e 12 litros por dia a partir do próximo mês. Os detalhes
foram acertados ontem em uma reunião entre o promotor e o município.
Fonte: O Jornal de Hoje
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