Matéria de Davi Moura
Resolvi fechar a semana com uma lista. Fiquei pensando nos momentos
top das minhas últimas semanas e tive a ideia de fazer uma listinha sobre minha
querida Mossoró. Costumo dizer que em Mossoró há um campo magnético que
faz com que certas coisas só aconteçam aqui. Como tenho comido bastante na cidade,
resolvi apontar algumas coisinhas que marcam bastante o cenário
gastronômico local. Talvez vocês se espantem com a lista, mas não falarei mal. Apenas direi a verdade sem citar os locais! Vamos lá?
1) Chefs de cozinha com formações variadíssimas: em
grandes restaurantes, vemos bons chefs com formação e experiência adequadas. Em
alguns menores, vemos cozinheiros e auxiliares de cozinha executando belíssimos
trabalhos. Cozinha, mais que técnica, é de berço, e em Mossoró somos
presenteados com chefs de todos os tipos.
2) Fim de festa = comidas típicas com pedaços de bichos: quem
conhece a Cobal, no centro da cidade, sabe que lá é destino certo da galerinha
que termina as festas pegando o sol com a mão. Buchada, panelada e tripa
frita são algumas das iguarias (pesadas) que estrelam entre os mais famosos
cura-ressaca da cidade – e tem que ser da Cobal. Há uma cultura muito forte,
acho que típica do potiguar, de escolher alimentos pesados para ir se livrando
dos efeitos do álcool. Sou boy da tripa, é a que escolho, mas NUNCA para
curar ressaca! Haha!
3) Não temos comidas específicas (ainda): ”ah, eu adoro
culinária mexicana” – já ouvi isso em Mossoró. Mas com certeza esta frase vem
de uma pessoa que já viajou para outras cidades e provou. Investir em
gastronomia diferenciada em Mossoró ainda é tenso, pois há sempre o período de
teste. Um bom exemplo foi o tal do hambúrguer gourmet, que parece que pegou no
gosto da galera. A ideia é algo bem americano. O sushi e o açaí também pegaram,
de uma forma diferenciada, com muito cream cheese e leite condensado
(respectivamente), mas funcionaram. Comida tailandesa? Indiana? Ainda não. Mas
não perco as esperanças.
4) Pudim é a sobremesa favorita do mossoroense: fiquei
chocado quando vi que o famoso pudim foi apontado como sobremesa mais pedida
pelo mossoroense na última edição da Revista TOP Gastronomia. Depois que
entrei em contato com o resultado, fui observar os hábitos do consumo de doces
do morador da nossa cidade. É incrível como em todo canto há o
pudim disponível. Do espetinho mais fim de carreira no final da rua até o
restaurante mais fino da cidade, todos servem pudim. Imagino que seja devido ao
seu sabor que agrada fácil e o baixo custo de produção. Sinceramente, até
como, mas não está no top 5 de favoritos.
5) Em duas lojas iguais, as comidas serão diferentes: padronização
é algo que o mossoroense desconhece. Há alguns empreendimentos da cidade que
contam com várias filiais. Chegue em uma delas e peça um prato. Coma.
Chegue na segunda, de mesmo nome (às vezes do mesmo dono) e peça o mesmo prato.
Provavelmente você comerá duas coisas completamente diferentes. Até nas
franquias mais conhecidas os padrões são esquisitos. Ouvi uma história sobre 3
sócios que gerenciavam uma rede de restaurantes, cada um administrava um.
Era pra ser padronizado, mas eram três modelos de gerência e já presenciei
um falando mal do outro. É barra, hein?
6) Espetinho e hambúrguer são sempre mais pedidos: remontando
o final da década de 90 na cidade, onde espetinhos e lanchonetes eram
praticamente as únicas opções, o padrão não mudou muito. Abrir uma lanchonete
ou espetinho de calçada continua sendo uma opção de custos fixos baratos e a
certeza de um público certo. São comidinhas baratas, que agradam pela
simplicidade e praticidade. Às vezes a melhor solução pra não precisar cozinhar
em casa, depois de um dia de trabalho, é comer um sebosão na calçada mesmo. Ou
até pedir uns 3 espetinhos com uma cerveja gelada pra amolecer. Vejo pontos
positivos e negativos nisso. Os positivos pela movimentação da economia
informal, principalmente. São mais oportunidades para mais pessoas trabalharem.
O negativo é a rotina, a mesmice. O cidadão acaba se acostumando com o “mais do
mesmo” e não se torna exigente.
7) Você não vê o dono trabalhando: quando viajei à
Gramado, uma coisa incrível que pude reparar foram os próprios donos do
restaurante trabalhando. Coordenavam garçons, serviam às mesas, davam
dicas sobre o cardápio. E faziam FELIZES! Dava pra reparar que faziam isso por
prazer. O empreendedor de Gastronomia de Mossoró (não são todos, mas já
vi vários), colocam a si mesmos como seres superiores, que não podem sequer
recolher um copo da mesa para a mão não cair. É uma vergonha! Teve um caso que
ouvi assim “abri isso aqui, pois sempre tive vontade de investir nesse
segmento”. Eu perguntei: “você tem formação em gastronomia ou algum curso?”.
Resposta: “Não, é que meus amigos também acharam legal”. COMO ASSIM,
GENTE? Vamos estudar! Vamos por a mão na massa! Não cai o p*nto nem os peitos
fazer um esforcinho para se envolver no seu negócio!
8) Restaurantes generalistas com pratos especialistas: o
segredo para um estabelecimento gastronômico dar certo na nossa cidade é ser
generalista. Tem uma sequência certa de pratos que ele deve ter fixos no
cardápio para se manter por pelo menos 3 meses na boca do povo mossoroense. A
lista inclui pizza de frango com catupiry, sanduíche completo, espetinhos
variados, filé à parmegiana, filé com fritas, cerveja gelada e, para os mais
ousados, sushi. Abra seu empreendimento só com isso que a chance de fazer
sucesso é grande. O que acontece, após um tempo, é que acabam ficando
conhecidos por um único prato. Quando você pensa em comer sushi em Mossoró, de
cara vem dois nomes à cabeça. Quando o assunto são as massas, mais uns dois
nomes vem à cabeça. Pizza? Você já tem seu nome certo. A impressão que dá é que
se especializam em algo e esquecem como fazer bem o resto. Ou não.
9) Atendimento ruim: Mossoró é conhecida
internacionalmente por seu atendimento ruim. Aqui não é incluído somente o
segmento de gastronomia, mas todos os outros também são. Elencam-se nos
dedos de uma mão os locais nos quais é possível ser atendido dignamente. Pra
ilustrar melhor, vou contar como foi uma das minhas piores experiências por
aqui: cheguei no restaurante X e, pra começar, não fui direcionado
corretamente para alguma mesa. Após isso, eram 3 garçons nos atendendo (eu, minha
mãe e meu pai) e ninguém entrava em consenso. Quando, enfim, decidiram
quem seria o garçom, arremesaram (mesmo!) o cardápio na mesa e mal deram
explicação sobre prato algum. Tudo isso sem mencionar a cara de b*ceta
para anotar os pedidos – parecia que estava fazendo um favor. Quando a comida
chegou, um dos pratos veio errado; havia um GARFO pra pegar a farofa; achei um
inseto na comida; e, pra finalizar com chave de ouro, um cabelo. Tudo o
que poderia dar errado, deu! O mais triste é ver que eles não se esforçam para
melhorar.
10) Publicidade é ignorada na maioria dos casos: estou
com minha agência há quase dois anos e a ideia inicial era trabalhar somente
com o segmento gastronômico. É quase uma piada bem irônica – trabalhar
assim me faria morrer de fome! O empreendedor do segmento de Gastronomia ignora
MUITO o poder da comunicação. Acha que é somente servir um prato mais ou menos
que já está bom. Tenho dois exemplos que até hoje me deixam atravessado. Sou de
falar! O que não está bom pra mim, sento e resolvo na conversa. Só que nesse
caso fiquei tão louco, que preferi nunca mais nem olhar. Um cliente X me
chamou para conversar sobre o empreendimento dele, mas deram uma grande
enrolada e me dispensaram. Já em outro canto fizeram uns publiposts
e também me ignoraram. Também, quando me veem na rua, viram a cara. Gente, que
mundo é esse? As pessoas não podem ser sinceras? Desisto.
E aí? Concorda? Discorda? Comente!
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