Erosão pode separar bairro na cidade de Brasiléia do
território brasileiro.
Alguns moradores já abandonaram suas casas com medo.
O Brasil pode perder uma área de terra equivalente a 66
campos de futebol para a Bolívia. A erosão, provocada pela cheia do Rio Acre,
poderá em alguns anos, separar parte do bairro Leonardo Barbosa, localizado no
município de Brasiléia (fronteira com a Bolívia), distante 240 quilômetros da
capital acreana, do restante do território nacional. De acordo com informações
da prefeitura de Brasiléia, atualmente 614 famílias vivem no local.
O geólogo do Instituto de Pesquisa da Amazônia (Ipam), Pavel
Jezek, explica que há um risco de o território onde fica o bairro ser separado
do restante do município de Brasiléia, caso ocorra uma grande enchente. Como a fronteira entre Brasil e Bolívia na região é
demarcada pelo Rio Acre, os 66,05 hectares que compõem o território do bairro
Leonardo Barbosa poderiam ser reclamados pelo governo boliviano.
Jezek diz que a situação já foi informada para a Agência
Nacional da Água, para Secretaria Nacional de Recursos Hídricos e também para o
Itamaraty, considerando que o Rio Acre é fronteira internacional. Além disso,
uma proposta técnica para tentar conter a separação foi apresentada à
prefeitura de Brasiléia, mas nenhuma providência foi tomada até o momento. Ele
atribui a demora à necessidade de um acordo binacional que ainda não foi
realizado.
"A causa do processo de erosão no bairro Leonardo
Barbosa é o rio, cuja vazão, quantidade de água por unidade de tempo, varia
entre seca e cheia. Em situação de cheia aumenta a velocidade e a intensidade
de erosão", explica. Ele reforça ainda que a ocupação de terrenos nas margens do
rio, contribui para diminuir a coesão da superfície do solo.
"Todo mundo sabe que essa é uma área de risco". A coordenadora pedagógica da Unidade do Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) em Brasiléia e moradora do Leonardo
Carvalho, Rejane Raolino de Souza, conta que a escola, localizada no bairro, já
foi condenada pela Defesa Civil e deverá ser transferida para outro lugar em
três meses.
"Todo mundo sabe que essa é uma área de risco que foi
condenada pela Defesa Civil, mas no momento a gente não pode fazer nada, porque
as crianças não podem ficar sem estudar e a gente não pode ficar sem cumprir
com os nossos deveres. Já pensei em sair, mas no momento não é possível",
relata. Outro morador que está preocupado é o comerciante José
Soares Lopes (42) que vive há sete anos no bairro. A erosão já alcançou a parte
de trás de seu comércio e ele conta que espera uma atitude do poder público.
"A alagação está fazendo com que a terra vá descendo,
está derretendo tudo. Aqui era uma área de cinco metros que está acabando. A
gente espera uma ação do governo, que eles venham olhar de perto e digam se vão
nos tirar ou vamos ter que sair por conta própria", disse. Segundo o radialista Marcos José Filho (37) a população não
sabe como agir. Ele conta que muitos já venderam suas casas e se mudaram com
medo, mas que outros por não terem para onde ir, continuam a espera de uma ação
do governo.
"Aqui estamos praticamente ilhados correndo o risco de
ficar isolados do resto da cidade. Já tivemos uma alagação forte no ano passado
e muitos moradores por não terem para onde ir, continuam morando nessa área e o
rio continua quebrando o solo. Têm pessoas que não conseguem dormir em paz com
medo e muitos moradores já venderam suas casas e saíram daqui por causa
disso", conta.
Fonte: Yuri Marcel/G1
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