Jornal de Hoje - Na tarde desta última quinta-feira (3),
curioso para saber o que as garotas de programa esperam da Copa do Mundo,
entrei em um site para conseguir uma entrevista. Diante do anúncio de que
chegarão milhares de turistas por estas bandas, daqui a pouco mais de 70 dias,
a classe profissional mais antiga do mundo movimentará uma quantia incalculável
na festa armada por franco-suíços. Portanto, ouvir mulheres que representam
parte da cultura nacional faz sentido, sobretudo por desconfiarmos que a
promessa de que teremos algo a oferecer, em termos de estrutura e organização,
será descumprida.
Nosso maior atrativo será a esbórnia tropical, e não há
gritaria governamental que mude isso. Ao todo, liguei para treze números, e
posso garantir que a coisa foi difícil, com direito a desligadas na cara e
algumas respostas sugestivas. “Estou no quarto trabalhando, me respeita”, disse
Ellen Minerato. “Não estou podendo falar agora”, soltou Victória Prado. E por
aí foi. Até que Fernanda e Ana Flávia me salvaram e abriram o jogo (com todo o
trocadilho possível). Em lados opostos do campo, uma paraibana e uma
pernambucana bateram bola sobre o que esperam dos ‘gringos’.
Digamos que os dados pessoais expostos a seguir sejam
verdadeiros. Pois se ambas estavam desconfiadas de lá, eu também estava de cá.
Fernanda informa em seu perfil no site de acompanhantes que tem 22 anos, mas ao
telefone confessou ter 29. Ela passará uma curta temporada em Natal (até semana
que vem), onde pretende encher o bolso com os R$ 400,00 cobrados por cada
rodada de prazer. “Na verdade, não tenho expectativa alguma. Estrangeiros nunca
foi meu foco. Não digo todos, mas a maioria deles é sujo e acha que somos
bestas. Muitos são pobres em seus países, mas aqui pensam que são ricos e que
podem nos humilhar”. Com 1,64m e 58kg, a recifense malha de três a quatro vezes
por semana e recebe cerca de 50 ligações por dia. “Mas isso não quer dizer que
tudo vira programa. Faço uns três ou quatro por dia. Depende da época. Cheguei
a fazer seis por dia. Foi meu máximo”. Na iminência de concluir o curso de
direito, juntar dinheiro para, no próximo ano, montar o próprio negócio é sua
meta. O cansaço venceu, após nove temporadas de libertinagem. “Só que muitas
amigas minhas acham que vão ganhar muito dinheiro [com a Copa]”.
Sem falar outro idioma, como taxistas e a turma dos bares e
restaurantes despreparados para o evento esportivo de junho que vem, e dona de
uma franca antipatia por estrangeiros, Fernanda diz que a concorrência aumentou
e que optou por trabalhar em horários menos traiçoeiros, por medo da violência.
“Hoje está mais concorrido, apesar de que os preços aumentaram. Mês bom eu
consigo fazer R$ 8mil, R$ 10 mil. Poderia fazer mais, só que eu seleciono com
quem eu saio. Se o cara falar pornografia na ligação ou demonstrar que está
bêbado ou drogado, eu não saio”. Seu expediente começa às 10h e termina à
meia-noite. “Não trabalho de madrugada, nem de manhã cedo” – horários em que a
razão pode ir para o espaço, nos mais volúveis ao álcool e aos entorpecentes.
“Estamos aqui para realizar fantasias, mas tem limite”. Com ela, a chance de
viver o conto de fadas e ir morar no exterior é zero. Como boa profissional do
sexo, se envolver emocionalmente com clientes é raro, nada que comprometa a
ideia de abandonar os serviços na alcova. “Tive só umas duas ou três
paixonites, mas passou rápido”.
Se a fluência em língua inglesa, italiana ou espanhola fará
falta, a ‘retórica do amor’ sai fácil da boca de Ana Flávia. Ciente de que o
mercado do sexo paulista espera ter um aumento de até 60%, a morena de Campina
Grande acredita que o mesmo acontecerá em Natal, onde reside desde dezembro
passado. “Com certeza vai melhorar. Essa agonia toda na cidade, com esse
trânsito horrível, será recompensada com muito dinheiro que eles [turistas]
deixarão”. Com 27 anos de idade e três de profissão, abrir os braços para
europeus e norte-americanos é corriqueiro, e um novo cálculo para o cachê
(omitido no site) começou a ser feito. “Eu adoro estrangeiro. Já sai com
alemão, francês, italiano, de todo lugar. Sempre fui muito bem tratada, com
respeito e carinho. Comigo não tem isso. Pode ser preto, branco, de todo jeito”
– nos extremos das etnias das seleções que jogarão na Arena das Dunas, temos
africanos e japoneses, com os míticos libertinos das Ilhas Gregas de reserva.
Para demonstrar seu apego aos forasteiros, Ana Flávia tem um projeto de morar
na Espanha, em 2015.
Enquanto Natal, típica cidade turística brasileira, pouco
investiu na capacitação idiomática das pessoas que atuam no ramo, São Paulo,
acostumada com o grande fluxo de farristas durante o Grande Prêmio de Fórmula
1, por exemplo, vê casas noturnas incrementarem seu atendimento com aulas de
inglês para as meninas. Frases como “Do you do anal?”, “Yes, but I charge a
plus” (“Você faz anal?”, “Sim, mas cobro um extra”) ou “Please, take a shower”
(Por favor, tome um banho) correm soltas, em meio à negociação de valores. Para
Ana Flávia, técnica em enfermagem em dupla jornada, é como no futebol, em que
ter o português como a única forma de comunicação passa longe de ser um
problema. O importante é ser bom de bola e assimilar os sinais. “Nunca deixei
de sair com alguém por não saber inglês ou outra língua. Na hora H, damos um
jeito e a coisa acontece normalmente”. Com a liberação de bebidas alcoólicas
nos estádios e no entorno, e a felicidade estampada na cara de todo habitante
de uma região fria no instante do desembarque nas zonas quentes e úmidas
Equador abaixo, o legado da Copa para as garotas de programa parece garantido.
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Fonte Jornal Hoje
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