Não sabia se estava voltando no tempo, entrando nos anos
1970/80 ou se estava num remake de woodstock, limitadas as proporções, mas não
achava que estava em Mossoró. Todo aquele tradicionalismo artístico engravatado
ou fixado na necessidade de vinculação com o poder público, havia se dissipado
e tudo estava no beco. Um beco mesmo, mais estreito que o Beco da Lama, menor
do que a Brecha da Gata, mas como se nele habitasse um portal entremundos, ou
entretempos, tanto faz. Garotos de saia faziam protesto contra a homofobia.
Lésbicas dançavam coreografias eróticas. Todos se beijavam livremente como se
não houvesse sexo. Casais héteros confabulavam suas paixões. Loucos se fingiam
de poetas para gritar no microfone palavras de ordem ou trechos que diziam ser
poemas. O beco estava vivo e tinha me engolido.
Se havia reparado na travessa José Martins de Vasconcelos,
por trás dos Correios do centro de Mossoró, não me lembro, mas garanto que
jamais me esquecerei dela. As imagens me tatuaram e a ânsia de permanecer por
lá, congelavam o meu tempo. Bebida alcóolica, cheiro de maconha, músicas de
épocas diferentes, juventude, juventude. Vi até uma estrangeira, mas vi,
principalmente, a necessidade da arte. A vontade de ser livre e quebrar, como
na transvaloração de todos os valores, todos os valores vigentes. O amor é
maior que tudo, pensei ter ouvido isso de uma jovem baixinha, gordinha de
óculos e pele amorenada que falava com um flanelinha. Ele parecia consultá-la
como a uma pastora e ela assim se fazia.
No meio da multidão o poeta Mário Gerson era outra pessoa.
Menos burocrático, jovem como nunca foi. Flagrei-o em situações que, embora
simples e não comprometedoras, quebravam o gelo do acadêmico imortal. Digo
outra pessoa porque, não sei se foi a tequila que eu virava com frequência, mas
imaginei Fernando Pessoa em Mário Gerson. Lembrando-me do que li sobre ele: um
sujeito estranho, místico e supersticioso e que fazia de tudo poesia. A melhor
entre as portuguesas modernas, suponho. Comprei dois poemas datilografados de
Mário que estavam a venda no varal do beco.
O beco, ou Coletivo Pega o Beco, é um movimento experimental
realizado pela galera do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UERN, sob o
comando de Max Medeiros, um louco que usa barba de revolucionário e age assim o
tempo todo. Ele e a galera que integram o movimento do Beco, a revolução
cultura de Mossoró. Acontece nas sextas e nos sábados a partir das 16h e sem
hora para acabar. É um compromisso, mas não parece nada obrigatório. O beco é
livre para quem vai ou não, embora o bom seja ir.
Jovens bebendo, se drogando e prostituindo, presos aos seus vicios que na verdade não os libertam!!!! Isso não é viver em tempos de liberdade, isso não é liberdade é apenas uma maquiagem que o mundo oferece.
ResponderExcluirCuidado!!! Os movimentos LGBT's ferem princípios éticos, culturais e bíblicos principalmente.