quarta-feira, 31 de julho de 2013

I Encontro sobre Espaço e Ensino nas Ciências Humanas na Educação Básica em Pau dos Ferros - RN



I Encontro sobre Espaço e Ensino nas Ciências Humanas na Educação Básica: o espaço geográfico como objeto de estudo interdisciplinar será realizado nos dias 3 a 5 de Dezembro de 2013, em Pau dos Ferros, RN. Este evento é uma promoção do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Espaço, Ensino e Ciências Humanas (GEPEECH) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Humanas (PPGCISH) da UERN.

Além do PPGCISH, o GEPEECH conta com a colaboração do Programa de Pós-graduação em Letras (PPGL) do CAMEAM/UERN, da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação  (PROPEG) e do próprio Campus Avançado Prof Maria Elisa de Albuquerque Maia - CAMEAM.

A década de 1970 é marcante para a história do pensamento geográfico mundial e do Brasil em particular, pois teve início nela o movimento de renovação crítica da ciência geográfica, com a chamada Geografia crítica. Esta, pautada, sobretudo no materialismo histórico e dialético marxista, mas também aberta a interdisciplinaridades variadas como a fenomenologia, contribuindo para o desenvolvimento de uma geografia de base cultural, com a psicologia, originando uma geografia da percepção. Com relação ao conceito de espaço nas ciências humanas Bettanini (1982, p. 15) afirma que “No interior das ciências humanas, a noção de espaço é segmentada e colocada como uma tentativa de elevar-se acima do objeto de análise, descrevendo e inventariando. Somente a geografia, em sua tenttiva e reformulação, parece aproximar-se de uma reflexão epistemológica”. Daí a necessidade deste I Encontro Estadual sobre Espaço e Ensino de Ciências Humanas na Educação Básica com a finalidade de unir esforços interdisciplinares em torno da discussão deste conceito básico de qualquer ciência social - o espaço geográfico ou simplesmente espaço - ainda que os seus objetos sejam diversos: a cultura, a sociedade, os grupos, a memoria, o tempo, a historia. Todos são tributários de disucssões espaciais.

A vida não se realiza fora do espaço, sem a vida não há espaço, pois a vida é um pressuposto espacial. Sem espaço não há vida, pios o espaço é um pressuposto da existência. Vida e espaço, vida e mundo, pois o espaço é o mundo, portanto o mundo da vida. Sem a existência corpórea e social o que até agora se entende por espaço não seria outra coisa senão uma paisagem, matéria sem ação. A imaginação de Santos acerca da questão é explicativa: "Durante a guerra fria, os laboratórios do Pentágono chegaram a cogitar da produção de um engenho, a bomba de nêutrons, capaz de aniquilar a vida humana em uma dada área, mas preservando todas as construções. O Presidente Kennedy afinal renunciou a levar a cabo esse projeto. Senão, o que na véspera seria ainda o espaço, após a temida explosão seria apenas paisagem. Não temos melhor imagem para mostrar a diferença entre esses dois conceitos". (2004, p. 106, grifos do autor).

Contemporaneamente a Geografia tem cada vez mais não apenas ampliado seus contatos com outras ciências, o que faz parte da sua própria constituição disciplinar, o que poderia ser tida como uma ciência de síntese (MORAES, 1995), mas também se tornado cada vez mais presente nas leituras e nas produções de outras ciências, como História, Antropologia, Sociologia e Filosofia dentre outras. Emerge assim a possibilidade de uma ciência inter-poli-transdisciplinar no dizer de Morin (2004), ou seja, uma disciplina aberta. Assoma-se assim a sua importância social e científica, pela inquestionável valorização dos temas espaciais, territoriais, regionais, locais, globais. Todavia, esta importância social da geografia não tem sido acompanhada por um trabalho constante e consistente das ciências humanas em pensar A natureza do espaço. As profusões de temas resultantes dos contatos interdisciplinares multiplicaram-se o que requer, em todo o caso, um trabalho complexo de integração destas análises, sem o qual não podemos entender o cerne da própria Geografia, sua Metageografia, entendida como uma “filosofia menor”, ou uma “província do saber” “[...] que ofereça um sistema de conceitos capaz de produz, na inteligência, as situações reais enxergadas do ponto de vista desta província do saber”.

Parte-se assim da concepção de espaço como um conceito e uma realidade, pois ele tem uma ontologia, é formado por objetos e ações no dizer de Santos (2004) ou por objetos e ações instrumentais e ações comunicativas no dizer de Carneiro (2006, 2009, 2011a, 2011b). A partir daí é preciso entender que este espaço é produzido e reproduzido pela ação humana e que este processo, no entendimento de Habermas (1990, 2011) é material e simbólico.  Do ponto de vista material, as ações orientadas para fins, teleológicas, cuidam da sua produção já do ponto de vista simbólico as ações comunicativas, linguísticas, dão conta de sua reprodução. Em todo caso, está em jogo interações variadas entre o mercado, o Estado e a cultura, assim, é necessário analisar como o dinheiro, o poder e os símbolos culturais se imbricam para conformar os espaços da vida.

Por outro lado,  esta imbricação reforça a necessidade de se analisar o processo de ensino e aprendizagem que ocorre sempre no espaço, seja formal ou informal, na cidade ou no campo. Assim, há possibilidade, no âmbito do CAMEAM, de estudos diretos na área de Pedagogia, Educação Física, Geografia e Letras os quais podem ser integrados a trabalhos transversais com enfermagem, economia e administração. Da mesma forma, espera-se que a UERN a partir de seus grupos de pesquisa ligados ao tema, possam contribuir para o debate a estudos interdisciplinares na área do evento.

Neste sentido, reforça-se a ideia de  autonomia do saber e ao mesmo tempo se amplia a necessidade da integração disciplinar em torno dos temas ligados ao ensino das ciências humanas presentes na educação básica.

Ao falar-se aqui de ciências humanas, não se exclui da proposta a possibilidade de contatos com as chamadas ciências naturais ou exatas, tendo em vista que entendemos de um ponto de vista lato, que todas as ciências são humanas. A problemática do ensino no Nordeste, no Rio Grande do Norte e no Alto Oeste Potiguar, em particular, requer esforços conjuntos na busca de sua melhoria, estudos específicos, mas também coletivos.

Dr. Rosalvo Nobre Carneiro
Coordenador do Evento

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