terça-feira, 16 de julho de 2013

“Copa no RN pode ser um tiro no pé”



“A Copa do Mundo pode ser um tiro no pé”. Se essa frase fosse dita um ano atrás por qualquer empresário ou líder patronal, possivelmente seu autor seria execrado em praça pública. 

Mas, nesta sexta-feira, ela foi repetida mais de uma vez pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira do Rio Grande do Norte, Habib Chalita, durante entrevista coletiva para mostrar os resultados de uma pesquisa encomendada pela ABIH/RN sobre a importância do turismo para a população potiguar. 

Realizada na última quinzena de maio junto a um universo de 800 pessoas em Natal, a sondagem assinada pela Consult, a mesma empresa que recentemente conduziu uma radiografia da construção civil para o Sinduscon/RN, mostrou, entre outras coisas, que a população já identificou o Governo do Estado, com alguma colaboração da Prefeitura de Natal, como protagonistas no processo de esquecimento do turismo como agente de desenvolvimento econômico. 

A pesquisa primeiramente mostra toda a importância que a população da capital atribui à atividade do turismo como gerador de riqueza para, em seguida, colocar os poderes constituídos como os mesmos que não reconhecem essa condição. Ao analisar as informações capturadas no trabalho realizado na última semana de maio, entregue à ABIH local na segunda quinzena de junho e guardada a sete chaves enquanto a diretoria da associação resolvia o que fazer com elas, Habib Chalita fez uma previsão ainda mais sombria: “do jeito que as coisas vão, a rede hoteleira de Natal não conseguirá uma ocupação de 85% durante o evento Copa do Mundo”. 

Indagado de onde tirou tanto pessimismo, ele disse que o fator “divulgação deficiente” se encarregará de roubar da cidade todas as possibilidades  na comparação com outras sedes da Copa, como Recife, aonde a distância da Arena Pernambuco vem sendo considerada entre os grandes obstáculos a serem enfrentados pelo turista. 

“A gente sabe que quem for inteligente pode se basear em Natal para acompanhar os jogos em outras sedes nordestinas da Copa, já que a nossa Arena das Dunas estará a poucos minutos de qualquer hotel”, lembrou Chalita. O problema, segundo ele, é que os atrasos nas obras de mobilidade e a falta de um planejamento tripartite, envolvendo Estado, prefeitura e iniciativa privada, podem colocar tudo a perder. “Pedimos apenas bom senso por parte das autoridades, pois a situação se afigura, faltando um ano para a Copa, extremamente preocupante”, afirmou Chalita. 

De acordo com a pesquisa Consult, 55% consideram a atividade turística “muito importante” e 33,88% importante. E 43% acham que o Governo do Estado não incentiva o turismo como devia, enquanto 42% têm a mesma opinião sobre a presença da prefeitura de Natal. Diante de questionários de múltipla escolha, 57,9% dos entrevistados apontaram a divulgação como principal prioridade de ação turística, mais até do que a qualificação profissional, que ficou com 43,6%. 

“Eu nem concordo com essa prioridade, acho que a qualificação deveria vir em primeiro lugar, mas isso reforça a idéia geral que sem divulgação do destino nós teremos uma resposta insuficiente”, analisou Chalita. Um dado interessante da pesquisa é quando se pergunta o que deve ser uma prioridade da prefeitura na tarefa de atrair turistas. A resposta de 47,3% vai para a limpeza urbana, com o cuidado das praias com 31% e (novamente) a divulgação com 25,6%.  

Para o presidente da ABIH/RN, o sinal de alerta já foi dado. De uma ocupação hoteleira com média de 85% a 90%, em 2010, a rede hoteleira de Natal exibe preocupantes 60% a 65% no primeiro semestre deste ano. Dos seis hotéis que estavam projetados para estarem funcionando até o evento da Copa, em 2014, será sorte se dois abrirem as portas. Dos investimentos previstos há dois anos pela hotelaria da ordem de R$ 360 milhões, apenas – e com sorte – R$ 160 milhões serão concretizados. 

Habib Chalita tem uma explicação racional para o problema. O turismo está no sangue, no DNA, do Rio Grande do Norte. Só que as políticas de desenvolvimento econômico não conseguem enxergar isso e nem tratar o tema como um desafio de “Estado” e não de “Governo”. Essa miopia, Chalita tem certeza, vai custar muito caro quando, no ano que vem a Copa do Mundo mostrar à incapacidade dos gestores públicos de aproveitaram as grandes oportunidades que se apresentam. 

A partir da semana que vem, o presidente da ABIH no estado pretende iniciar uma série de entendimentos para promover encontros nas principais cidades pólos do RN, debatendo o tema turismo e suas inúmeras possibilidades perdidas. E ele sabe que assunto vai dar o que falar.

Jornal de Hoje

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