Conab tem estoque de milho no interior da Bahia, mas teve de
importar o cereal para atender regiões atingidas pela estiagem.
Apesar da safra recorde deste ano, entraves logísticos
obrigarão o governo federal a receber milho argentino para ajudar no combate à
maior seca dos últimos 50 anos no Nordeste. O caos logístico, que prejudica o
escoamento da produção para a exportação, também impede o transporte do milho
guardado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no interior da Bahia.
Como solução, a companhia decidiu trazer o cereal da Argentina.
Trata-se do segundo problema logístico de grandes
proporções, em conjunto com as filas de caminhões para embarcar a supersafra de
grãos em alguns portos brasileiros. É, também, uma ironia, tendo em vista a
situação de ampla oferta de milho no mercado interno, o que leva os produtores
brasileiros a pressionar por medidas de apoio ao escoamento da safra, já que
falta espaço nos armazéns no Centro-Oeste e há risco de ser estocada a céu
aberto.
O lote de 20 mil toneladas de milho argentino, que será
entregue no Porto de Salvador, foi a primeira compra do governo em leilões
realizados pela Conab. Ao todo serão compradas 103 mil toneladas de milho para
atender os pequenos criadores que sofrem com a seca prolongada. O cereal será
doado aos governos estaduais, que serão responsáveis pelo ensacamento,
transporte e distribuição.
O Nordeste enfrenta a maior seca em mais de meio século, com
1.386 municípios em situação de emergência, segundo a Secretaria Nacional de
Defesa Civil. Em visita à região, a presidente Dilma Rousseff prometeu a
entrega de 49,1 mil toneladas de milho e máquinas escavadoras. Neste ano, o
Brasil deve colher 78 milhões de toneladas de milho, 7% mais que na safra
passada, segundo a Conab.
Fila. No caso do milho argentino, a intenção inicial da
Nidera Sementes, subsidiária da trading holandesa do mesmo nome, era entregar o
cereal estocado em Luiz Eduardo Magalhães, município do oeste da Bahia a cerca
de mil quilômetros do Porto de Salvador. Entretanto, como a fila de caminhões
para embarque de soja no porto baiano é imensa, para não correr risco de atraso
a empresa optou por entregar o milho argentino, que começou a ser carregado em
navios na origem.
A Coamo, cooperativa de Campo Mourão, será responsável pela
entrega de 30 mil toneladas de milho no Ceará, com a vantagem de ter um
terminal de grãos em Paranaguá. Para concluir a operação, precisará contar com
a ajuda do governo para "furar a fila" de navios que estão aguardando
por várias semanas a vez de atracar no porto. A Secretaria dos Portos baixou
uma portaria dando prioridade ao embarque e desembarque do milho que irá para o
Nordeste.
A prioridade para as operações nos portos também é
fundamental para o Grupo Getúlio Viana, de Primavera do Leste (MT), que vai
entregar 25 mil toneladas de milho no Recife. Marcos Viana, diretor
administrativo do grupo, diz que a venda ao governo foi alternativa encontrada
para garantir o escoamento da produção de milho, que neste ano enfrentará
dificuldades de logística e de preços, por causa da colheita de safra recorde
em Mato Grosso.
Ele afirma que a empresa arrematou o lote por R$ 730,80 a
tonelada no Recife, mas somente de frete rodoviário até Paranaguá vai gastar R$
300 por tonelada. Viana diz que os cálculos da cabotagem ainda estão sendo
realizados, mas prevê que a margem de ganho na operação "será muito
pequena".
Segundo Viana, além da logística complicada existem outros
fatores do chamado "custo Brasil" que são imprevisíveis. Um problema
é o preço cobrado pelo sindicato dos trabalhadores braçais em municípios como
Bom Jesus da Lapa (BA), para retirar o milho do caminhão.
Os sindicatos cobram R$ 1,50 por saca de 60 quilos. Ele diz
que na origem, com todo trabalho de ensacar o milho e colocar em cima do
caminhão, o custo da mão de obra é de R$ 2 por tonelada. Setores do governo
reconhecem que o cereal não resolve o problema do gado faminto no Nordeste,
pois os ruminantes precisam mais da forragem escassa do que do milho.
Fonte: http://www.estadao.com.br/
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