Único bioma
exclusivamente brasileiro, a caatinga vê sua riqueza ambiental dilapidada pelo
uso predatório dos recursos naturais, que ameaça espécies como o tatu-bola, a
mascote da Copa do Mundo de 2014. O alerta foi feito por um especialista que há 15 anos estuda
este ecossistema, às vésperas do Dia Nacional da Caatinga, comemorado neste
domingo.
"A caatinga é o patinho feio dos biomas brasileiros. É
o menos conhecido e recebe menor investimento público. Isto se deve à visão de
que é um ecossistema pobre, quando, na verdade, é diverso e tem muitas espécies
endêmicas" (que só existem lá), explicou à AFP o engenheiro-agrônomo e
doutor em Ecologia Marcelo Tabarelli, professor da Universidade Federal de
Pernambuco.
Segundo dados oficiais, a caatinga se estende por 9 estados
do nordeste brasileiro (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba,
Rio Grande do Norte, Piauí e Sergipe) até o norte de Minas Gerais (sudeste).
Ocupa 844.453 quilômetros quadrados, área superior aos territórios de França,
Reino Unido e Suíça somados.
O bioma abriga 932 espécies de plantas, 178 de mamíferos,
591 de aves, 177 de répteis, 79 de anfíbios e 241 de peixes. Segundo Tabarelli, algumas espécies foram extintas, como a
ararinha-azul ('Cyanopsitta spixii'), e outras estão ameaçadas, como o
tatu-bola ('Tolypeutes tricinctos').
Na região vivem 27 milhões de pessoas e a grande maioria
sobrevive de agropecuária de subsistência. Feijão e milho são os principais
cultivos e na criação de animais predomina o rebanho caprino. Uso inadequado do solo, consumo de lenha nativa em
residências e indústrias e desmatamento para dar lugar à agropecuária são as
principais agressões à caatinga.
Consequentemente, 46% do bioma foram desmatados, segundo o
Ministério do Meio Ambiente. "Falta planejamento no uso dos recursos naturais da
caatinga. A população depende deles, mas sem uso planejado, observa-se a
repetição do círculo degradação do solo/pobreza", relatou Tabarelli,
consultor do Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Tabarelli criticou a falta de investimentos em pesquisas e
de unidades de conservação integral na caatinga, que apesar de importantes para
preservá-la, protegem apenas 1% do bioma. "As ações (oficiais) têm sido pontuais, falta uma
política de desenvolvimento sustentável", lamentou.
Para ele, são prioridades da região criar novas unidades de
conservação, promover o ecoturismo e melhorar as atividades produtivas, com
agropecuária sustentável substituindo o extrativismo (exploração do solo
sem reposição dos nutrientes). No Dia Nacional da Caatinga, celebrado este domingo,
Tabarelli acredita ser possível salvar o bioma.
"Já se sabe como produzir de forma sustentável na
caatinga, mas esta informação precisa chegar ao produtor. É preciso investir
em educação, em transferência tecnológica. O problema não é o gargalo
tecnológico, mas a vontade política", concluiu.
Márcio Melo via Uol
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