quinta-feira, 4 de abril de 2013

Artigo de opinião | Meu gigante cajueiro: uma reflexão sobre a devastação em Lagoa Nova - RN


Escrito por João da Mata Bezerra – Gestor Ambiental


Hoje, quando vou chegando a Lagoa Nova e vejo aqueles caminhões carregados de lenha de cajueiro descendo a serra em direção às fabricas ceramistas, fico imaginado o tempo em que éramos crianças e colhíamos castanha de caju lá no sitio dos meus pais e no dos meus avós maternos, um na comunidade Humaitá, e o outro na comunidade de Sitio Novo. Costumávamos, na época das chuvas, separar aquelas melhores castanhas para servirem de sementes e serem plantadas, escolhíamos as sementes daquelas plantas mais produtivas e que tivessem bom sabor, ou seja, aos poucos foi feito uma seleção natural de espécimes de cajueiros da variedade gigantes bem produtivos e que até os dias de hoje produzem bem sem grandes alterações.

Temos árvores de cajueiro com mais de cem anos vivendo até hoje por lá e produzindo da mesma forma que no passado. Estou fazendo essa reflexão para chegar num assunto que envolve toda a problemática do corte do cajueiro que vem vem sendo feito, indiscriminadamente, por alguns agricultores em nosso município.

Segundo o Ibama, o cajueiro é considerado uma cultura agrícola, sendo, portanto, tratada pelo agricultor dessa forma, podendo ele fazer a remoção da mesma na ocasião em que achar melhor. Pode também fazer a poda anual como parte dos tratos culturais e utilizar a lenha em agroindústrias como casa de farinhas e cerâmicas ou comercializá-la para outros fins. Até ai tudo bem, só que exatamente por se tratar de uma cultura altamente adaptada à Serra de Santana não se justifica fazer a remoção total dos cajueiros. O agricultor que optar por essa alternativa deverá ser esclarecido das consequências negativas, tanto para a sua propriedade, quanto para a economia do município.

Para a propriedade, o desmate total dos cajueiros vai expor ainda mais o solo à ação da erosão eólica (provocada pelos ventos) ou pluvial (pelas chuvas) ou pior ainda, o solo fica mais exposto à radiação solar direta contribuindo para a sua esterilização. Para o município, a queda na produção de castanha e de caju não é positiva levando-se em conta que esses dois produtos agrícolas fazem parte da base da economia local, contribuindo direta ou indiretamente para a geração de emprego e renda nas comunidades rurais e na zona urbana.

Quanto ao agricultor que faz a poda racional, ou seja, o abate de cajueiros doentes e improdutivos, de variedades de castanha fora do padrão comercial, pedúnculo de sabor indesejável, entre outros, ou aquele que faz a substituição de copas ou opta pela cultura do cajueiro anão estarão contribuindo para a continuidade da cultura do cajueiro na Serra de Santana e merecem todo o apoio técnico do município no sentido de bem utilizar o solo, sua proteção e adubação correta visando maior produtividade não só dos cajueiros, mas das outras culturas agrícolas.

Os agricultores devem ser estimulados a plantarem mais culturas permanentes, a utilizarem as folhas dos cajueiros na proteção dos solos da radiação solar e da erosão em geral. Sabe-se que existem vastas áreas de solos empobrecidos em quase todo o município. Solos que vem sendo trabalhados, ano após ano, sem nenhuma adubação, e pior ainda, sendo todos os anos micro pulverizado pelo uso continuo de tratores. Acredito que não haja ainda um estudo que demonstre isso claramente, mas é evidente em algumas plantações de mandioca onde vê-se o melhor desenvolvimento da cultura em determinadas áreas e em outras não.

Os desafios são muitos para serem enfrentados nessa área em Lagoa Nova, decisões firmes precisam ser tomadas para o enfrentamento desses e tantos outros problemas que envolvem o município como um todo. Cabe àquelas mentes pensantes tão propagadas que exponham ideias que venham a contribuir para a solução desses problemas ou até mesmo esclarecendo aquelas mentes menos abertas para o entendimento da gravidade da questão aqui exposta e que a médio e longo prazo possamos colher os melhores frutos não só no presente mas no futuro também.

*As opiniões expressas nos artigos de opinião são de total responsabilidade de seus autores.



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