Escrito por João da Mata Bezerra – Gestor Ambiental
Hoje, quando vou chegando a Lagoa Nova e vejo aqueles
caminhões carregados de lenha de cajueiro descendo a serra em direção às
fabricas ceramistas, fico imaginado o tempo em que éramos crianças e colhíamos
castanha de caju lá no sitio dos meus pais e no dos meus avós maternos, um na
comunidade Humaitá, e o outro na comunidade de Sitio Novo. Costumávamos, na
época das chuvas, separar aquelas melhores castanhas para servirem de sementes
e serem plantadas, escolhíamos as sementes daquelas plantas mais produtivas e
que tivessem bom sabor, ou seja, aos poucos foi feito uma seleção natural de
espécimes de cajueiros da variedade gigantes bem produtivos e que até os dias
de hoje produzem bem sem grandes alterações.
Temos árvores de cajueiro com mais de cem anos vivendo até
hoje por lá e produzindo da mesma forma que no passado. Estou fazendo essa
reflexão para chegar num assunto que envolve toda a problemática do corte do
cajueiro que vem vem sendo feito, indiscriminadamente, por alguns agricultores
em nosso município.
Segundo o Ibama, o cajueiro é considerado uma cultura
agrícola, sendo, portanto, tratada pelo agricultor dessa forma, podendo ele
fazer a remoção da mesma na ocasião em que achar melhor. Pode também fazer a
poda anual como parte dos tratos culturais e utilizar a lenha em agroindústrias
como casa de farinhas e cerâmicas ou comercializá-la para outros fins. Até ai
tudo bem, só que exatamente por se tratar de uma cultura altamente adaptada à
Serra de Santana não se justifica fazer a remoção total dos cajueiros. O
agricultor que optar por essa alternativa deverá ser esclarecido das
consequências negativas, tanto para a sua propriedade, quanto para a economia
do município.
Para a propriedade, o desmate total dos cajueiros vai expor
ainda mais o solo à ação da erosão eólica (provocada pelos ventos) ou pluvial
(pelas chuvas) ou pior ainda, o solo fica mais exposto à radiação solar direta
contribuindo para a sua esterilização. Para o município, a queda na produção de
castanha e de caju não é positiva levando-se em conta que esses dois produtos
agrícolas fazem parte da base da economia local, contribuindo direta ou
indiretamente para a geração de emprego e renda nas comunidades rurais e na
zona urbana.
Quanto ao agricultor que faz a poda racional, ou seja, o
abate de cajueiros doentes e improdutivos, de variedades de castanha fora do
padrão comercial, pedúnculo de sabor indesejável, entre outros, ou aquele que
faz a substituição de copas ou opta pela cultura do cajueiro anão estarão
contribuindo para a continuidade da cultura do cajueiro na Serra de Santana e
merecem todo o apoio técnico do município no sentido de bem utilizar o solo,
sua proteção e adubação correta visando maior produtividade não só dos cajueiros,
mas das outras culturas agrícolas.
Os agricultores devem ser estimulados a plantarem mais
culturas permanentes, a utilizarem as folhas dos cajueiros na proteção dos
solos da radiação solar e da erosão em geral. Sabe-se que existem vastas áreas de
solos empobrecidos em quase todo o município. Solos que vem sendo trabalhados,
ano após ano, sem nenhuma adubação, e pior ainda, sendo todos os anos micro
pulverizado pelo uso continuo de tratores. Acredito que não haja ainda um
estudo que demonstre isso claramente, mas é evidente em algumas plantações de
mandioca onde vê-se o melhor desenvolvimento da cultura em determinadas áreas e
em outras não.
Os desafios são muitos para serem enfrentados nessa área em
Lagoa Nova, decisões firmes precisam ser tomadas para o enfrentamento desses e
tantos outros problemas que envolvem o município como um todo. Cabe àquelas
mentes pensantes tão propagadas que exponham ideias que venham a contribuir
para a solução desses problemas ou até mesmo esclarecendo aquelas mentes menos
abertas para o entendimento da gravidade da questão aqui exposta e que a médio
e longo prazo possamos colher os melhores frutos não só no presente mas no
futuro também.
*As opiniões expressas nos artigos de opinião são de total
responsabilidade de seus autores.
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