Portas quebradas, paredes descascadas, odor de urina e
fezes, rachaduras e infiltrações no teto. O cenário parece o de alguma casa
abandonada de um filme de terror. Mas na realidade trata-se da Casa do
Estudante, local que apesar de ser ocupado por cerca de 150 pessoas, está
totalmente abandonado. Correndo o risco, inclusive, de ser interditado, segundo
os moradores da casa.
O descaso com o patrimônio público já pode ser visto logo na
entrada do imóvel. O portão da casa está permanentemente aberto. No local onde
deveria ser a recepção da casa tem fezes e urina. O fedor é insuportável.
Um dos cenários mais crítico é na sala de estudo. O cômodo
está totalmente deteriorado. Como o telhado e as paredes estão com infiltração,
o salão está alagado, com lodo no chão.
O refeitório da Casa do Estudante está fechado. Uma parte do
teto desabou, restos de comida e embalagens de quentinha estão jogados pelo
chão. Portas e janelas estão quebradas. Além disso, a Secretaria de Estado do
Trabalho, da Habitação e da Assistência Social (SETHAS) não fornece alimentação
desde dezembro em virtude das férias escolares.
O problema é que apesar das férias, alguns estudantes não
retornam para as suas casas, como é o caso de Gedelaf Paiva, 21 anos, que está
na Casa há dois meses, precisam se virar para conseguir alimentação.
"A minha mãe manda minha comida, caso contrário não
teria como comprar porque não trabalho. Comprei um fogão elétrico onde preparo
minhas refeições, no quarto mesmo", disse Gedelaf que é da cidade de
Pilões. Ele está em Natal para fazer um curso de Inglês e se preparar para o
vestibular de Direito da UFRN.
O quarto do estudante é simples. Apenas uma rede, um
ventilador, uma cadeira e uma prateleira onde ele guarda livros e objetos
pessoais. Dos 100 quartos da Casa do Estudante cerca de dez foram
interditados por decisão dos estudantes em face do perigo iminente. "Há
muitas infiltrações. Decidimos os quatros porque a situação estava
insustentável", disse o presidente da Casa do Estudante, Luís Paulo Silva
dos Santos.
A última reforma na Casa do Estudante data de 2007, no
governo de Wilma de Faria. De lá para cá nada foi feito, apesar das promessas e
da assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta feito entre o Governo e o
Ministério Público. O titular da SETHAS, Luiz Eduardo Carneiro, informou que o o
Governo auxilia os estudantes fornecendo alimentação, água, luz e gás. E que já
tentou articular uma reforma, mas precisa da ajuda dos estudantes.
"Nos comprometemos em articular uma reforma, mas
precisamos da colaboração da diretoria da Casa. É preciso que seja
regularizada a questão da papelada, do pagamento ou não dos tributos e da própria
diretoria", disse o secretário. Luiz Eduardo sugeriu ainda que os estudantes buscassem apoio
junto ao setor privado para a reforma.
Na Casa feminina, o problema é a falta de segurança
Diferente da situação encontrada na Casa do Estudante, as
meninas que vem para Natal estudar tem um pouco mais de sorte. A diferença na
estrutura pode ser percebida logo na entrada, pela fachada do prédio que está
recém pintada. Na parte interna, se a estrutura não é a ideal, é bem mais
habitável do que a casa destinada aos homens. Pelo menos, aparentemente não há
problemas e marcas de infiltração, teto e piso quebrados.
"A casa passou por uma reforma recentemente. Na
verdade, não foi bem uma reforma, foi mais uma maquiagem, mas com certeza a
situação é bem melhor que a casa dos meninos", disse a estudante
Cynthia Maia, 23 anos. Para elas, os maiores problemas da casa são a cozinha e o
refeitório e a falta de segurança. Na cozinha, os armários estão quebrados,
falta luz, entre outros problemas.
"Mas o pior mesmo é a questão da segurança. De dia não
tem problema porque a Cidade Alta é muito movimentada, mas a noite isso aqui é
um deserto. Um perigo para as meninas que chegam em casa depois das 21h",
contou a presidente da Casa da Estudante, Aline Fidelis. As próprias estudantes compraram uma cerca elétrica para dar
mais segurança à casa. "Aqui não tem nenhum segurança, guarda patrimonial.
E deveria ter, não só por se tratar de prédio público, mas por causa de nós,
moradoras", disse Aline.
Para deixar a Casa em ordem as cerca de 60 meninas que moram
no local contribuem com uma mensalidade de R$30,00 que para pagar duas
cozinheiras e uma faxineira.
* Tribuna do Norte/Ponto de Vista/Márcio Melo
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